quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Vi e não gostei do que vi

“Não sou baderneiro. Eu só não quero que roubem meu dinheiro”. A mensagem era clara. No entanto, quando os manifestantes tentaram interromper a passagem do terminal central de ônibus de Joinville, a polícia é quem fez a baderna.
Certa vez, li o parecer do ombudsman (crítico de um jornal) da Folha de São Paulo sobre a manifestação dos estudantes da USP e ele dizia que ainda não inventaram nada melhor que a polícia para cuidar da segurança pública. Segurança que deve ser colocada entre aspas. Polícia que deve ser reinventada. O ombudsman fazia uma crítica tanto a ação da polícia quanto a atitude dos estudantes que invadiram a reitoria da universidade.
Não sei como é o treinamento das supostas pessoas encarregadas de cuidar da tal segurança pública, mas o que eu particularmente presenciei em mais uma manifestação do Movimento Passe Livre (MPL) na quarta-feira, me indignou.
Assim como outros manifestantes, tive a impressão de que os policiais que estavam ali para garantir a nossa segurança esperavam ansiosamente para usarem sua chamada autoridade. Autoridade que lhes é assegurada pela lei e por outros objetos que carregam pelo corpo: arma de fogo, cassetete e spray de pimenta. Literalmente, pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Em uma atitude incontestavelmente desnecessária, os policias, que pediram para que nos retirássemos do local de entrada dos ônibus, sem terem seu pedido acatado decidiram usar outros métodos para que saíssemos do local.
Com a face séria e usando os ombros como forma de liberar passagem, foram eles tentando afastar os manifestantes. Me lembro apenas de um policial, se não me engano, um senhor, que tentava liberar o caminho de forma mais, digamos, civilizada. Usava as mãos para nos afastar, mas houve quem preferisse usar os ombros e o spray de pimenta.
“Tudo aconteceu de forma pacífica, cumprindo as regras para este tipo de manifestação”, afirmou o aspirante Jean Carlo Denk, ao jornal A Noticia. Fiquei sem entender. Então, o que seria forma pacífica? Quais seriam as regras?
Me indignei com o que vi. Em determinado momento, olhei para o lado e vi uma cena que, em suas devidas proporções, me remeteu ao documentário Noticias de uma guerra particular, especialmente por causa desse título. Um policial que já tinha jogado spray de pimenta em um manifestante, talvez para revidar alguma fala desse próprio manifestante, desafiava-o a ir até o local onde ele se encontrava, na posse de seu spray de pimenta. Uma palavra define esse ato: ridículo.
Lembrei do documentário, como já disse, por causa do nome. Vi ali uma cena não de uma guerra, mas de um desafio particular. Era o manifestante de um lado sendo chamado pelo policial para encarar seu famigerado spray.
É freqüente vermos nos telejornais imagens de manifestações, nas quais ocorre conflito com a polícia. Como de costume, a imagem dos manifestantes fica estereotipada como baderneiros. Mas lembrem-se: “Não sou baderneiro. Eu só não quero que roubem meu dinheiro”. Não tenho provas, nem conhecimento de causa para o que vou dizer, trata-se apenas de uma impressão minha. Não precisa de muita coisa para a policia usar sua força, como também não precisa de muito spray ou cassetete para que os manifestantes revidem o ato. E a confusão está pronta. Portanto, tenho a leve impressão que, na maioria das vezes, quem arma a confusão, e me parece que gosta de armá-la, é a polícia. Basta uma palavra que não foi acatada e o estresse se instala.
Digo isso porque realmente me irritou ver a cena que vi. E vontade não faltou de revidar a atitude deles. No entanto, ninguém lá fez isso. Diante disso, posso concluir que a polícia é despreparada para lidar com o cidadão. A cena do policial enfrentando um aluno da USP, veiculada por vários telejornais, também é prova disso.
A manifestação que tinha como objetivo protestar contra o aumento da passagem de ônibus, por um breve tempo, assumiu outra causa. “Polícia é pra ladrão, pra estudante não”.
Ainda que tenhamos problemas no meio do caminho, não podemos nos afastar da causa. Exercemos apenas um direito que nos foi concedido. Como diria o Recado de Gonzaguinha: “Se me der um grito, não calo. Se mandar calar, mais eu falo”. E assim nós caminhamos com “Fé na vida, fé no homem, fé no que virá. Nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será”, palavras do mesmo compositor.
Bom seria se esses homens se despissem de sua autoridade e caminhassem junto a nós. Ficam as palavras de Luiz Gonzaga do Nascimento Junior:

“Mas se me der a mão, claro, aperto


Se for franco, direto e aberto


Tô contigo amigo e não abro


Vamos ver o diabo de perto




Mas preste bem atenção, seu moço


Não engulo a fruta, o caroço


Minha vida é tutano, é osso


Liberdade virou prisão”.




Por Patricia Stahl Gaglioti

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Chega de aumento!


No dia 03/12 (dia em que o JEC foi campeão da Serie C), o prefeito Carlito Merss anunciou um novo aumento na passagem do transporte coletivo da cidade, passando de R$2,55 para R$2,70 (o aumento da passagem embarcado não foi divulgado).

As empresas Gidion e Transtusa protocoloram na Seinfra o pedido de reajuste da tarifa de ônibus para R$ 2,91. Segundo Moacir Bogo, além da atualização dos custos do sistema, foi acrescido no valor um reajuste para os motoristas.

O pedido das concessionárias servirá para marcar posição. O chefe de gabinete Eduardo Dalbosco reafirmou que a Prefeitura só concederá a inflação. “Isso não inviabilizará o sistema e estará dentro da realidade do usuário”, diz.

[Blog do Saavedra, 06/12/11 ClicRBS]


A realidade que qual usuário? Porque gastar quase ou mais de R$200,00 por mês de passagem não ta dentro da realidade de muita gente...


[Ana Luiza Hemb]



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Desmarginalizar a Arte Urbana



"Várias cores, plural de formas, combinado de texturas.
Romã, hortelã, maçã, anis, erva-doce e maracujá.
Menta, framboesa ou camomila.
Bem vindos ao projeto Chá".

O poema que abre a primeira postagem do blog das meninas do Coletivo Chá, criado em 2010, deixa claro a idéia do trabalho desenvolvido. Nos muros cinzas de Joinville, a arte delas colore, provoca, aguça os sentidos. Na palavra das próprias meninas, dão vida ao concreto da cidade.

Este foi um ano de muito trabalho e reconhecimento para o Coletivo Chá. O projeto das cinco meninas que enfrentam a madrugada para dar vida e movimento àquilo que é inanimado foi tema do documentário de um acadêmico de jornalismo.

Em 2011 também, as meninas marcaram presença no N Design, um evento realizado pelos e para acadêmicos e profissionais da área, e que chegou em sua 21º edição. O detalhe é que não apenas estiveram presentes, como ofereceram uma oficina no evento, ou seja, passaram adiante várias das idéias que habitam essas cucas criativas.

Na Univille, participaram do GAMPI, um evento que ocorre desde 2009, também voltado a profissionais e estudantes de design. O Coletivo Chá foi convidado pela Lez a Lez para customizar latões e painéis expostos nas vitrines das cinco lojas em Santa Catarina. Para ter uma breve idéia do que as meninas aprontaram confiram o vídeo.

E para fechar com chave de ouro, as meninas inscreveram e tiveram aprovado um projeto no SIMDEC - Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura. Do que se trata? Disseminar em três escolas públicas seus conhecimentos. Jogaram a semente no vento. Daqui um tempo, os muros de joinville estarão floridos e ainda mais coloridos.


Confiram o bate-papo do Coletivo Chá com o blog do Che.



quinta-feira, 7 de julho de 2011

Viviendo una vida loca

Dia 30, à tarde, sai da faculdade, às 14h15, para resolver algumas coisas na rua. E durante meu trajeto até a rua XV de Novembro, reparei a presença de malabaristas nos semáforos - um na Princesa Isabel, outro na João Colin e outro ainda na Blumenau. Por isso, fui pensando pelo caminho que seria muito interessante entrevistar algum deles, a fim de descobrir sua história, que convenhamos, aparentemente não é muito parecida com a da maioria da massa urbana.

Quando voltei para a escola, apenas o malabarista que estava na Princesa Isabel continuava lá. Entrei no Bom Jesus, pensei um pouco em como abordá-lo, falei com a professora Maria Elisa, peguei uma câmera no estúdio de foto e sai. Uma chuva que Deus mandava! Antes de atravessar a rua, na Princesa Isabel, vi que dois malabaristas estavam sentados em frente a uma loja de calçados. Atravessei e fui me aproximando. Quando cheguei perto, me apresentei dizendo que era estudante de jornalismo e gostaria de fazer uma matéria com eles. Os dois aceitaram.

Ao me sentar ao lado de um deles, o que estava mais distante disse algo que não entendi, mas percebi que não era brasileiro. Me disse, então, que era uruguaio. O outro, argentino.

Nem me lembro qual pergunta fiz a eles primeiro, só sei que não anotei nada em meu bloquinho, apenas seus nomes: Juan Pablo, 22 anos, argentino, e Maximiliano Danyelo, 24 anos, uruguaio. A entrevista se tornou uma conversa informal, e no fim das contas também fui entrevistada.

Maximiliano disse que entre os 17 e 18 anos saiu de casa com o objetivo de conhecer a América Latina. O propósito era viajar e depois voltar para casa, terminar o ensino médio e fazer faculdade, mas a aventura agradou tanto que voltar para o Uruguaio e levar a vida que todos levam não era mais seu objetivo. Segundo ele, quando saiu de casa tinha no bolso o equivalente a R$ 20,00. E de cidade em cidade, um trabalho aqui outro ali, passou por Bolívia, Chile e Brasil – devo estar me esquecendo de algum outro local. Ele me contou que foi casado com uma baiana durante dois anos, mas definitivamente, as regras já não o agradavam mais. E, por sinal, elogiou muito os baianos, muito acolhedores e humildes.

Chegou a voltar para o Uruguai, ficou um mês lá e há um mês está na estrada de novo. Passou por Itajaí, onde trabalhou com o companheiro argentino em uma obra por 20 dias, e há três chegou à cidade das Flores. Entusiasmados, os dois falaram também de Floripa, cidade maravilhosa! Como se eu não soubesse! Mas, confesso que senti um certo constrangimento de perguntar à Maximiliano como era a Bahia. Poxa, eu, brasileira, vou perguntar a um uruguaio como é um estado do meu país?! Deixa pra lá...

Intrigada, perguntei aos colegas onde eles dormiam. Me disseram, então, que um dia era em albergue, no outro em algum hotel e às vezes no pátio da igreja. Preferiam comer bem e dormir como desse. Inclusive, no dia anterior ao de nossa conversa, tinham dormido na igreja. Outra pergunta que não podia faltar: quanto vocês ganham??!! Um certo suspense, umas palavras indecifráveis e com uma certa insistência saiu: entre R$ 30,00 R$ 35,00 por dia.

E em relação aos seus pais? O que pensavam sobre esse estilo de vida? Maximiliano disse que o pai não concorda muito com a vida do filho, mas foi a opção dele... “Fazer-se-á” o quê? Não posso falar com convicção, mas parece que Juan não fala com a família. Quando sobra uma grana, o uruguaio vai em uma Lan House e fala com os familiares.

Fiquei surpresa em ver que, principalmente, Maximiliano era bem informado. Quando me questionou sobre a faculdade que fazia, e informou que seu irmão é jornalista do maior jornal do Uruguai, comentei que era bolsista, não pagava a faculdade, e perguntei a ele se conhecia o Prouni. Para minha surpresa, não só conhecia como comentou o problema que aconteceu, no ano passado, com as provas do ENEM.

E o futuro? Sólo Dios sabe! Mas, Maximiliano disse que ainda pensa em cursar uma faculdade, quem sabe antropologia. Sabemos que um trabalho de pesquisa envolve teoria e prática, e segundo o uruguaio, a parte prática ele já desenvolveu, falta elaborar sua teoria. O amanhã para Juan ainda é incerto. Vamos viver a vida, cada um da sua maneira, com mais ou menos aventuras... escolham!!

Estoy de vuelta, personas!


Por Patricia S. Gaglioti